Guma foi uma heroína de nosso tempo. A vida reservou-lhe uma larga e comprida estrada da vida, com mais espinhos que flores. Casou-se aos 13 anos de idade, e aos 14 anos já era mãe. Com a ajuda de seu pai, ela e o marido construíram a casa sobre o terreno que ela tinha ganhado do avô paterno. A casa ficava fora do perímetro urbano. Mas não demorou muito e àquela região se tornou populosa, ficando conhecida como favela Cidade dos Anjos. Num sábado de abril, o marido ao atravessar a faixa de pedestre no centro de Juiz de Fora foi atropelado por um ônibus que passou por cima dele, matando-o no local, na presença da dona Guma. Ela perdeu os sentidos ao ver o ônibus passar por cima de seu marido. Quando ela voltou a si, ela não se lembrava de nada. Ficou desmemoriada por mais de cinco anos, e só recuperou a memória no dia que a sua casa foi incendiada pelo fogo que veio do céu e destruiu a favela Cidade dos Anjos, às vésperas do Natal de 1989. Ter escapado com vida daquele incêndio foi um milagre. Sem lugar para morar, a dona Guma junto com o filho e a nora com os filhos tornaram-se caçadores da sorte. Com a ajuda de Eloisa Gurgel, eles foram morar no Rio de Janeiro, onde foram recebidos de braços abertos pelo Cristo Redentor. No Rio de Janeiro, eles foram morar em Grajaú, zona norte carioca, num lugar denominado Vila do Sossego. Lá morava a dona Moça, uma celibatária virgem, dona de um corpo escultural de fazer sombra a mais linda das odaliscas. Ela guardava a virgindade para o homem que viesse ser o seu marido. Sina ou não, o fato é que ela se casou com o coronel-aviador reformado Jeferson Nunes, comandante de um Boieng 737 Cargo da Varig. Um homem lindo, mas fora da validade, não tinha ereção, por ter sido fumante durante a mocidade e grande parte da vida adulto. Mesmo sabendo, ela se casou com Jeferson. O casamento durou quatro anos, Jeferson morreu, deixando-a viúva, rica e ainda virgem.
A dona Moça, comovida, foi fazer companhia a dona Moça, com receio de ela não aguentar o trauma da viuvez e entrar em depressão. Era o seu dever ajudá-la. A dona Guma devia muitos favores à dona Moça. Foi a dona Moça quem ensinou sobre etiqueta social e como se vestir. A dona Moça foi a grande incentivadora para a dona Guma fazer o supletivo para entrar numa faculdade e se formar. Desde que a dona Guma chegou ao Rio de Janeiro, a dona Moça sempre ajudava a dona Guma a se vestir, doando roupas que ela não usava. As duas eram amigas inseparáveis. A dona Guma quando chegou no Rio, ela foi trabalhar na casa da dona Eloisa Rangel como passadeira de roupas e faxineira. Tempos depois a dona Moça conseguiu que a dona Guma fosse trabalhar no serviço de limpeza geral da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Quando ela concluiu o supletivo do ensino fundamental ela recebeu transposição de cargo para Agente Administrativo. Quando concluiu o supletivo de ensino médio foi aprovada no vestibular de Direito da UERJ. Estudou sempre à noite e concluiu o Curso de Direito com louvou. Foi aprovada na Ordem dos Advogados do Brasil e passou a advogar. E ao mesmo tempo era professora de Direito Civil na UERJ. Quatro anos exercendo atividades jurídicas, como advogada, quando abriu concurso para juiz substituto, ela foi aprovada e ingressou na Magistratura na Comarca do Rio de Janeiro.
A dona Guma em tempo algum se descuidou do filho e da nora com os filhos. Ganhou o prêmio da loteria federal e comprou uma casa em Grajaú e pôs no nome do filho e da nora. Quando pôde montou um restaurante para o filho e a nora trabalharem juntos. Quando o Dinho se formou em Direito, ela o pôs no seu antigo escritório advocatício. Ninguém mais do que ela sabia que não é fácil lidar com a solidão porque a vida é vazia e escura sem amor. Ela sabia que é preciso ousar tudo se realmente ama. E ela amava a dona Moça. Em 2011, depois de ter sido reconhecido uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, a Guma e a dona Moça e se casaram, e Guma é feliz sendo mulher de outra mulhe
